Google desacelera, mas ainda cresce

05/04/2016

Os negócios do Google desaceleram, mas continuam crescendo no Brasil. Neste segundo ano de recessão, o maior serviço de busca de dados na internet do mundo detecta mudanças no comportamento do brasileiro, mais interessado em informações do tipo "faça você mesmo" do que comprar algo novo ou contratar um serviço.

A empresa diz que embora seja afetada pela economia em retração, sua receita ainda avança a um ritmo cada vez mais raro em comparação com o que se vê na maioria dos setores. "Estamos crescendo menos do que crescíamos no ano passado. Somos um reflexo dos clientes com quem interagimos. E nos dois últimos anos, a economia brasileira esfriou. Mas continuamos a crescer a dois dígitos no Brasil", disse ontem ao Valor, o diretor geral do Google no Brasil, Fábio Coelho.

A principal fonte da receita do Google vem de anúncios publicitários. Os espaço que mais dá retorno para a empresa é o site de buscas ­ os anúncios que aparecem numa pequena lista de sites no topo dos resultados. Anúncios exibidos antes de vídeos do YouTube (pertencente ao Google) e aqueles captados para sites de notícias ajudam a compor o grosso da receita.

Coelho afirma que mesmo segmentos da economia que sofrem uma forte retração continuam investindo em anúncios no Google. Caso da indústria automobilística. "O setor automobilístico, que vem caindo mais de 20% no Brasil, vem crescendo com a gente saudavelmente." No varejo, ocorre o mesmo. Segundo ele, a migração crescente de consumidores brasileiros para o ambiente digital leva empresas a investirem mais em comunicação e em propaganda que acompanhem esses consumidores. E o Google fica com uma parte desses ganhos, diz o executivo.

"Varejo, setor financeiro, automobilístico, de viagens e de educação. São setores que estão indo muito bem", diz ele.

Há uma mudança clara nos hábitos dos consumidores brasileiros que vem sendo registrada pelo Google. O número de buscas por algo usado, por exemplo, cresceu 50%. Entre contratar um serviço ou lições de "faça você mesmo", a segunda opção explodiu e nas áreas mais variadas. Desde como consertar eletrodomésticos (alta de 36%) até a como fazer amaciantes de roupa em casa (aumento de 72%).

Os dados comparam o número de buscas no primeiro semestre deste ano em relação ao segundo semestre de 2015.

Outro exemplo eloquente da crise: entre um restaurante e alguma receita famosa que se pode aprender pelo YouTube, a segunda opção deu um salto de 220%.

Além de buscar alternativas, os consumidores estão também pesquisando mais antes de efetuar uma compra qualquer. É outro dado que aparece no levantamento do Google no Brasil. "As buscas por sites de comparação de preços cresceram 60%. Para comprar uma televisão, as pessoas estão pesquisando 48% mais", diz Coelho.

O Google fechou em 2015 com uma receita global de US$ 74,5 bilhões. A empresa não revela seus números por país. O Brasil é um dos dez maiores mercados do mundo para a empresa. A recessão, para Coelho, é mais um "solavanco" numa economia que tem sido marcada há décadas por altos e baixos.

Segundo ele, a direção da empresa vê o mercado brasileiro como de "altíssimo potencial de médio prazo". Isso por vários motivos. Um deles, o avanço na venda de smartphones.

Em três anos, lembra ele, o número desses aparelhos no Brasil cresceu mais de dez vezes, passando hoje dos 100 milhões. E é pelo celular que já acontece uma fatia cada vez maior de acessos aos sites do Google.

Coelho diz que a empresa continua pondo em prática seu plano de investimentos. Ontem, ele inaugurou um novo escritório da equipe de engenharia do Google no país, que fica em Belo Horizonte. Outros investimentos em vista serão em São Paulo e no Rio.

Há cinco anos como principal executivo do Google no Brasil, Coelho, capixaba de Vitória, de 52 anos, é um dos integrantes do chamado conselhão da Presidência da República ­ um grupo grande que reúne empresários, altos executivos e representantes de diversos setores.

Ele diz que trabalha com um cenário em que o Brasil saia da crise econômica e política. "Mas não dá para precisar quando, nem baseado em que fenômeno."

 

Site: Valor Econômico
Data: 05/04/2016
Hora: 5h
Seção: Empresas
Autor: Marcos de Moura e Souza
Foto: ——
Link: http://www.valor.com.br/empresas/4510850/google-desacelera-mas-ainda-cresce