A Olimpíada é marcada pela superação física e pela emoção. Os atletas vibram diante do placar esperado e muitas vezes choram na subida ao pódio - que sintetiza vários anos de preparo. Esses momentos comovem bilhões de espectadores, que torcem tanto pelos competidores que defendem seus países nos jogos quanto pelos recordes.
O interesse global pelo evento com audiência esperada de 4,1 bilhões de pessoas - demanda cuidado especial à disseminação e ao acesso às informações. Com o avanço da digitalização, exige ainda potência tecnológica para o tempo real. "Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio serão os mais conectados de todos os tempos", resume José Formoso, CEO da Embratel.
O renascimento dos Jogos Olímpicos - promovido pelo barão de Coubertin em 1896 - só foi possível graças aos avanços científicos e culturais do século XIX. A urbanização estimulou a comparação de forças e conquistas na arte, na indústria, na ciência e no esporte. No Rio de Janeiro, 120 anos mais tarde, uma sociedade altamente conectada traz novos e complexos contornos à "rivalidade honrosa" das nações. "Ao todo, 60 mil pontos de rede vão interligar as arenas olímpicas simultaneamente, em um show tecnológico que será referência para o mundo", afirma Formoso.
Nas arenas tudo estará conectado. "Os resultados seguem um caminho integrado de difusão, alimentando placares eletrônicos, gráficos de emissoras de TV, portais, agências de notícias e aplicativos móveis", destaca o Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016. A produção de imagens flui automaticamente para o centro de imprensa cuja missão é transmitir informações com a mesma pressa dos velocistas.
Formoso calcula demanda para distribuir 61 mil horas de transmissão durante a realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Os eventos receberão 25 mil jornalistas, 50 mil voluntários e 15 mil atletas de 206 países. Em 29 dias, 42 modalidades olímpicas serão disputadas em 111 localidades. "É um torneio complexo, com muitas competições ocorrendo ao mesmo tempo", completa Alexandre Rangel, sócio da EY Brasil.
Quando uniu os cinco continentes pelos arcos olímpicos, Coubertin não podia imaginar a influência da internet, das redes sociais e da mobilidade na aproximação do público com os jogos. Nem poderia prever o nível de interação disponível nas mãos dos espectadores. O Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016 espera que 85% da audiência aconteça por meio de dispositivos móveis. Pela primeira vez na história do torneio, o público terá acesso a mapas das arenas em três dimensões (3D) e poderá navegar pelas instalações olímpicas utilizando o sistema Google Street View.
Aplicativos permitirão acompanhar a agenda e os resultados dos jogos. "Em Londres, todos foram pegos pelo avanço rápido das redes sociais, que congestionaram as redes móveis. No Brasil, a infraestrutura foi dimensionada para evitar problemas no serviço", afirma Rangel.
O objetivo é garantir que o público envie imagens, vídeos e comentários que vão circular pelo mundo inteiro em questão de segundos, invadindo as redes sociais. Esse nível de interação é benéfico para ampliar a visibilidade dos jogos e aproximar os mais jovens do evento. "A maior preocupação dos atletas com a infraestrutura da vila olímpica esteve centrada no acesso às redes de banda larga", destaca Rangel. Segundo ele, a conectividade superou o questionamento sobre o serviço de TV. "A demanda dos atletas reflete o que todos esperam: interatividade total".
Para dar conta do tráfego de dados, a Embratel, fornecedora oficial do evento, uniuse à Claro e à NET (empresas também controladas pela América Movil) na construção da infraestrutura olímpica. A rede abrange 358 quilômetros de fibras ópticas - o que equivale a mais de 3 mil campos do Maracanã enfileirados - , e houve expansão das redes 3G e 4G. Também foram implementados pontos para acesso à banda larga sem fio (wi-fi) nos locais dos jogos e nas areias de Copacabana. A infraestrutura de comunicação vai sustentar todas as aplicações de tecnologia da informação utilizadas no evento.
Além da Embratel, envolvida diretamente no provimento de serviços para o Comitê Olímpico, outras operadoras investiram no reforço da infraestrutura para os jogos. A Telefônica/Vivo aposta na melhora da cobertura dos serviços móveis nos locais de prova. "Estamos trazendo funcionalidades de redes 4,5G para melhorar a conectividade dos consumidores brasileiros e dos visitantes", afirma Átila Araújo Branco, diretor de acesso móvel e transmissão da operadora. Para ele, a realização dos jogos impulsionou investimentos em infraestrutura de TIC no Rio de Janeiro. "Será uma grande vitrine para as telecomunicações brasileiras", diz.
Já a Oi vai instalar uma "bolha de monitoramento" no centro de gerência de redes para evitar problemas no fornecimento dos serviços na capital fluminense durante os jogos. "A estratégia é semelhante à utilizada durante a Copa do Mundo, em 2014", lembra André Ituassu, diretor de investimentos, coordenação operacional e planejamento móvel.
Além de melhora na infraestrutura, o avanço tecnológico traz novos componentes para as arenas olímpicas. A consultoria IDC entende que o Comitê Olímpico Internacional está em meio a uma revolução digital que transforma os jogos em uma experiência global amplamente conectada - cercada pela implementação de computação em nuvem, análise complexa de dados, mobilidade e redes sociais. "O uso dessas tecnologias melhora a experiência dos espectadores e também aprimora a entrega dos serviços de tecnologia, fundamentais para a realização do evento", destaca o IDC.
Segundo a Atos, serão os jogos em que a tecnologia chega em primeiro lugar. É inédito, por exemplo, o uso de computação em nuvem para operar sistemas como o de recrutamento de voluntários, gerenciamento de recurso humanos e processos de certificação.
A iniciativa serve como um teste para algo mais decisivo para o comitê internacional: a centralização do laboratório de integração e testes de TI. Atualmente, é necessário instalar um centro - para testar todos os sistemas e aplicações de infraestrutura na cidade que recebe os jogos, criando custo adicional para a entidade. "No futuro, a estrutura localizada em Madri (Espanha) será a responsável por milhares de horas de testes virtuais", diz relatório da Atos.
A agenda de TIC do Comitê Olímpico Internacional ainda prevê maiores ações de engajamento com atletas e espectadores. Neste caso, o objetivo é criar laços entre as novas gerações e a Olímpiada.
Paulo Araújo, gerente de prévendas da EMC, aposta na inovação em serviços de informação como resultado da ampla digitalização dos jogos. Entre eles, destaca o armazenamento e as análises das informações esportivas. "É possível separar, avaliar e oferecer dados segmentados de forma muito rápida", comenta. Essa velocidade - alcançada pelo poder computacional dos centros de dados - traz uma nova dinâmica para acompanhamento dos esportes. Outra vertente está na geração de imagens com alta resolução.
Como clientes em potencial, estão empresas de mídia e até mesmo seleções olímpicas, que podem comprar imagens, vídeos e dados detalhados sobre o desempenho de seus atletas. Na área corporativa, as oportunidades surgem nos programas de relacionamento com clientes, uma vez que é possível cruzar dados sobre os espectadores e seus esportes favoritos, criando campanhas direcionadas. "Existem informações valiosas nas arenas", diz Araújo.
Não é à toa que a realização dos jogos definiu novos parâmetros para o mercado de centros de dados. Para a Olimpíada Rio, 2016 estarão em operação dois datacenters principais (no Brasil) e outros seis espalhados pelo mundo. A Embratel colocou mil servidores à disposição e a EMC reservou discos de alta capacidade para armazenar todos os dados gerados durante o evento.
Site: Valor Econômico
Data: 28/04/2016
Hora: 5h
Seção: Empresas
Autor: Ediane Tiago
Foto: ——
Link: http://www.valor.com.br/empresas/4541497/interacao-recorde