Smart Grids serão uma realidade no Brasil por bem ou por mal, avalia especialista

20/05/2016

O desenvolvimento de um novo conjunto de tecnologias para aumentar a eficiência e o controle das redes elétricas está avançado em todo o mundo. Esse processo de ruptura tecnológica vai acontecer também no Brasil. O País trabalha desde 2010 na avaliação, no mapeamento e no incentivo da cadeia produtiva das redes elétricas inteligentes (REIs), também conhecidas como smart grids.

Nos próximos dias, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) disponibilizará um documento, elaborado em parceria com o Instituto da Associação de Empresas Proprietárias de Infraestrutura e de Sistemas Privados de Telecomunicações (iAptel), com 73 proposições para aprimorar as políticas públicas e indústrias voltadas à implementação das REIs e ao aperfeiçoamento da regulação do setor elétrico, estimulando a adoção de medidas para o desenvolvimento tecnológico.

O documento apresenta propostas para quatro eixos: reforma institucional, aperfeiçoamento da regulação, política industrial e desenvolvimento tecnológico e mão de obra qualificada. De acordo com Cyro Vicente Boccuzzi, membro do conselho Consultivo da iAptel, a indústria nacional não evolui por falta de um mercado interno, o que nos torna cada vez mais dependentes da tecnologia estrangeira. Ele explica que é preciso atualizar o cenário institucional e a regulamentação do setor elétrico para não ficar atrasado.

“Essa é uma transformação que independe da vontade das pessoas e dos governos. Ela vai acontecer por bem ou por mal. Corremos o risco de ter a energia do século 20 em pleno século 21, ou então destruir as empresas que estão aí caso não haja os investimentos necessários para modernizar as operações”, disse o especialista em entrevista à Agência CT&I. “Queremos criar um ambiente economicamente estável para o desenvolvimento da nossa cadeia de smart grids. Precisamos gerar competência nacional com capacidade de competir em outros mercados.”

Apesar de um mercado enxuto, no Brasil há projetos de pesquisa e empresas de tecnologias da informação e comunicação (TICs) voltadas para as REIs. Um mapeamento elaborado em 2014, pela ABDI, apontou a existência de 200 projetos na área de redes elétricas inteligentes, com investimentos aproximados de R$ 1,6 bilhão em pesquisa e desenvolvimento (P&D), envolvendo 450 instituições. Deste total, 126 centros pesquisa, desenvolvimento e inovação no Brasil estão relacionados ao fornecimento de energia.

Para o diretor do Departamento de Gestão do Setor Elétrico do Ministério de Minas e Energia, Marcos Franco Moreira, as smart grids só trarão benefícios ao País. Ele classifica o processo de mudança tecnológica na gestão de redes elétricas como um operação ganha-ganha. “Ela é benéfica à sociedade, ao governo, às empresas e às distribuidoras de energia”, explica Moreira.

Na opinião do diretor, os grandes desafios são promover a disseminação das REIs sem aumentar o valor cobrado aos consumidores e os subsídios já cobrado nas tarifas. “Toda evolução tecnológica no início pesa no bolso de todo mundo. Já temos soluções para que não haja pressão nas tarifas cobradas ao consumidor e ao mesmo tempo não aumente os subsídios”, ressalta Moreira.

O representante da iAptel defendeu a adoção gradativa de medidas para adotar as smart grids sem aumentar as tarifas cobradas aos consumidores finais. Segundo Cyro Vicente Bocuzzi, já é possível as distribuidoras de energia tornarem o processo de cobrança mais transparente e com isso reduzir o mau uso das redes elétricas. “Com os equipamentos e tecnologias que temos hoje dá para mostrar ao cliente que usa a energia num horário de pico que ele pagará uma tarifa capaz de cobrir os investimentos necessários para aumentar a capacidade de fornecimento”, exemplifica. “Não precisamos trocar os 73 milhões de medidores de uma só vez. Esse é o tipo de medida que pode começar a ser feita com os grandes clientes de determinadas regiões.”

Em alguns países, como nos Estados Unidos, por exemplo, todos os negócios pagam pelo uso da capacidade instalada – medida em quilowatts (Kw) – e pelo uso da eletricidade - medida Kw/hora. “Temos indústrias brasileiras com 100 Kw de capacidade instalados e que só pagam Kw/h. Isso faz com que não haja incentivo para moderar a demanda. E por fim, o investimento necessário pelo mau uso da rede acaba sendo socializado para todos os clientes”, detalha Bocuzzi.

Cooperação internacional

As políticas públicas e industriais em REIs estão sendo debatidas no Seminário Internacional de Regulação em Smart Grids realizado no Palácio Itamaraty, em Brasília. A iniciativa promove a troca de experiência entre especialistas brasileiros e do exterior e faz parte do projeto Diálogos Setoriais Brasil-União Europeia. De acordo com o membro do iAptel, o Brasil acompanha de perto as evoluções em redes elétricas inteligentes no mundo.

“É importante nos prepararmos para adaptar todas essas tecnologias que existem à nossa realidade. Temos que pegar as melhores iniciativas para incentivar os players globais a interagir com as empresas nacionais para desenvolver e ‘tropicalizar’ os equipamentos com incentivos progressivos à medida que os dispositivos sejam incrementados”, destacou Bocuzzi ao apontar que o Brasil tem parcerias com a União Europeia, Estados Unidos, Japão, Canadá entre outros países.

(Felipe Linhares, da Agência Gestão CT&I)

 

Site: Agência Gestão CT&I
Data: 19/05/2016
Hora: 18h29
Seção: Notícias
Autor: Felipe LInhares
Foto: ——-
Link: http://www.agenciacti.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8997:smart-grids-serao-uma-realidade-no-brasil-por-bem-ou-por-mal-avalia-especialista&catid=3:newsflash