Não dá mais tempo de ficar no pensamento estratégico de longo prazo

07/06/2016

Os líderes das empesas tradicionais pensam que seu objetivo fim é vender mais produtos e serviços aos seus clientes, e consequentemente gerar maior valor para seus acionistas. As empresas em rede enxergam o valor na co-criação, compartilhamento e influência de seus clientes.  A maioria das empresas tradicionais diz explicitamente “o cliente em primeiro lugar”, mas na prática sua prioridade é satisfazer seus acionistas pela valorização de suas ações. Jack Welch, que foi CEO da GE, disse que o famoso SVM (Shareholder Value Maximization) foi uma das ideias mais idiotas que os gestores de negócios tiveram. Recomendo enfaticamente ler o texto “The World’s Dumbest Idea”, que mostra através de análises bem fundamentadas que SVM não representa realmente um maior retorno para os acionistas.

A diferença fundamental é que os líderes das empresas tradicionais foram criados em um mundo de escassez de informações enquanto vivemos hoje um mundo de abundância de informações. Os líderes das empresas tradicionais pensam em um cenário de capacidade plena e, portanto, têm que vender mais do que produzem. As empresas em rede enxergam de forma diferente e veem o mundo cheio de potencialidades: tem mais gente querendo alugar seus imóveis e quartos que a capacidade da indústria hoteleira em construir novos hotéis. As empresas em rede captaram esta diferença.

Um estudo bem instigante é “Digital Predator Or Digital Prey?”, feito pela Forrester Research, que deixa exposto o dilema: como você quer se posicionar em cinco, dez anos à frente? Portanto, para as empresas tradicionais, a questão não é se será necessário se transformar, mas quando e em que amplitude e velocidade.

A dificuldade é que a maioria das empresas tradicionais e seus líderes podem até ter a consciência do tsunami que está chegando, mas não sabem como começar a transformação dos negócios baseado na transformação digital e em qual direção seguir. Fazer uma transformação parcial ou reboot, reinicializando do zero? Mudar parte ou toda a empresa? Que talentos serão necessários? Quais os que estão hoje na organização que poderão levar a empresa a ser um “predador digital”, se for essa a estratégia a ser adotada?

Não entender o fenômeno das empresas em rede pode sim, significar o fim do seu negócio e de todo o setor. O Wikipedia destruiu o valor da Encyclopedia Britannica, sem se preocupar com os seus 250 anos de história. O Linkedin já fez com que muitas empresas de recrutamento perdessem relevância.

Não dá mais tempo de ficar no pensamento estratégico de longo prazo. “Alocaremos budget para transformação digital daqui a dois ou três anos”. Em dois a três anos talvez não seja mais necessário tal budget, pois a empresa se transformou em uma “digital prey”...Comece nesta segunda-feira mesmo!

O primeiro passo é repensar seus valores e paradigmas. O modelo de empresas baseadas em ativos, fruto da mentalidade da sociedade industrial, já não é adequado ao cenário de negócios em mundo digital. Quando o Facebook comprou o WhatsApp por US$ 19 bilhões, o WhatsApp tinha apenas 55 funcionários e nenhum ativo físico! Mas já crescia a um milhão de novos usuários por dia! Sim, a cada dia!! Este é o valor que foi comprado.

Examine quão ameaçado está seu modelo de negócio, mas não olhe para os seus concorrentes. Olhe para fora do setor. Entenda as diferenças do pensamento em rede versus o pensamento tradicional. Plante as sementes da transformação, direcione seus esforços e estratégia na direção da mudança. Não será uma transição fácil. Ninguém muda modelos de negócio sem atritos, sacrifícios e crises. É necessário mudar a maneira de pensar no que sua empresa faz, como ela faz, e quem ganha com isso.

Lembre-se da frase de Kevin Kelly, fundador da revista Wired: “In the network economy, success is self-reinforcing: it obeys the law of increasing returns”.

*Cezar Taurion é CEO da Litteris Consulting, autor de seis livros sobre Open Source, Inovação, Cloud Computing e Big Data

 

Site: Computerworld
Data: 07/06/2016
Hora: 8h35
Seção: Gestão
Autor: Cezar Taurion
Foto: ——
Link: http://computerworld.com.br/nao-da-mais-tempo-de-ficar-no-pensamento-estrategico-de-longo-prazo