Você já ouviu falar de mutualismo? Sim, aquele conceito da biologia segundo o qual duas espécies diferentes se beneficiam por meio de uma relação harmônica de troca.
Como acontece com os passarinho que comem restos de comida entre os dentes de jacarés que, em troca, evitam infecções. Lembrou? Pois bem: de certa forma, é disso que vamos falar agora.
O Corporate Venture não deixa de ser uma “relação harmônica de troca” entre empresas, geralmente entre uma de grande porte e estabelecida e uma ou várias startups, em que há benefícios para as envolvidas. A prática tem ganhado cada vez mais relevância na nova economia, e é por isso que você precisa conhecê-la melhor.
Mas o que é, exatamente?
De acordo com este artigo do Projeto Draft, Corporate Venture é a expressão utilizada para caracterizar os investimentos de empresas em negócios nascentes.
Em outras palavras, grandes organizações se tornam investidoras e futuras compradoras de startups. Isso ocorre porque empresas já estabelecidas precisam inovar e se atualizar, enquanto que as recém-chegadas dependem de investimentos para crescer.
Se houver alinhamento estratégico e afinidade, junta-se a fome com a vontade de comer. Estabelece-se o mutualismo ali de cima.
O princípio é o mesmo do que ocorre com o financiamento via Venture Capital, que é o nome dado a todas as classes de investidores de risco. A diferença é que, no caso do Corporate Venture, em vez de fundos independentes ou investidores individuais, há sempre relações e alinhamento entre empresas. E os aportes não são necessariamente de dinheiro, como veremos a seguir.
O exemplo disruptivo da Eli Lilly
No fundo, o Corporate Venturing é um processo regido pela lógica. Para entendê-lo, basta observarmos o que aconteceu com a gigante farmacêutica norte-americana Eli Lilly.
Quando, no final dos anos 90, os genomas estavam virando o setor de biotecnologia de cabeça para baixo, gestores perceberam que a sobrevivência da empresa dependia da habilidade dela de acompanhar essa ruptura.
Criaram, então, um fundo de Corporate Venture para conectar a Eli Lilly a startups de ponta, que ajudassem a empresa a se adaptar às mudanças. Pouco mais de dez anos depois, a Lilly Ventures já acumulava cerca de trinta destas colaborações.
Muitas proporcionaram insights preciosos para o desenvolvimento de produtos por meio de novas tecnologias. O caso está neste artigo da Harvard Business Review, cuja leitura (em inglês) é altamente recomendada.
Agilidade para as grandes, reputação para as pequenas
Por meio do Corporate Venture, uma grande empresa pode se adaptar com muito mais rapidez e flexibilidade às mudanças, demandas e até ameaças de mercado.
Não há dúvidas de que, se a Eli Lilly resolvesse se renovar e atualizar por conta própria, levaria muito mais tempo e gastaria muito mais recursos. O artigo da HBR lista uma série de outras vantagens para as grandes corporações.
As startups são beneficiadas também, claro. Receber o investimento de uma companhia conhecida significa receber reputação, habilidades e, claro, recursos. Mas não apenas financeiros: as startups apoiadas pela Eli Lilly, por exemplo, passaram a contar com os qualificados pesquisadores e os sofisticados laboratórios da empresa.
Sem mencionar a forma como os negócios nascentes são vistos por potenciais investidores. Um Corporate Venture pode, futuramente, resultar na compra da startup por parte da empresa a que ela se associou, o que a torna muito mais atrativa.
CVE e CVI
Se você aprofundar a pesquisa sobre o assunto, certamente vai encontrar as siglas acima. Correspondem às duas principais formas de Corporate Venture: Externo e Interno.
O CVE corresponde ao que já vimos: pequenas empresas, originadas em qualquer lugar, com recursos próprios de empreendedores, que começam a prosperar e entram no radar de grandes organizações. Essas se associam àquelas, trazendo estrutura, gestão e capital.
Por outro lado, o CV é interno quando a empresa estimula a criação de novos negócios dentro de sua própria organização. Por meio de uma incubadora, por exemplo.
Um espaço com estrutura enxuta e simples onde funcionários podem desenvolver ideias de forma isolada. E quando um novo produto ganha porte suficiente, ocorre o chamado ‘spin-off’. Ou seja, a unidade de negócio resulta na criação de uma nova empresa.
Tão na moda que virou série
Grandes empresas vão ajudar startups a se desenvolverem também na TV. A marca de uísque Chivas Reagal até desenvolveu um reality show para abordar o assunto. Intitulado “Vença do Jeito Certo”, vem sendo veiculado na FOX.
Dividido em três episódios, o programa insere executivos bem-sucedidos no eletrizante cotidiano de startups. A primeira foi a chef Paola Carosella, que foi levada ao Instituto Chão, em São Paulo, onde sete associados vendem produtos orgânicos e artesanais pelo preço do produtor. Durante uma semana, Carrosella conviveu, questionou e contribuiu para resolver os conflitos do negócio.
O próximo episódio será com Roland Bonadona (CEO da Accor) e a operadora de turismo Worldpackers, e o último programa será focado no produtor musical Rick Bonadio e o site de músicas Deezer.
Ou seja, até no universo do entretenimento o Corporate Venture tem feito sucesso. Não é para menos: quando duas organizações convivem em troca e harmonia, não apenas ambas saem ganhando, mas o ambiente no geral. A natureza é prova disso.
Publicado em Endeavor
Site: PEGN
Data: 25/07/2016
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Link: http://revistapegn.globo.com/Empreendedorismo/noticia/2016/07/o-que-acontece-quando-pequenas-e-grandes-empresas-se-unem.html