Os empresários reconhecem que ajustar as contas do governo é questão de grande relevância para o país, mas pedem que o presidente Michel Temer inclua na agenda prioritária medidas que facilitem a atividade produtiva e estimulem o ambiente de negócios. A reforma trabalhista é uma das iniciativas citadas, bem como a simplificação tributária, a solução para gargalos da infraestrutura e outras ações capazes de ampliar a competitividade. Em resumo, é necessário reduzir o "custo Brasil".
Esse foi o recado dos executivos e empresários que participaram do lançamento da 16ª edição do anuário "Valor 1000" e da cerimônia de premiação das empresas de melhor desempenho em 25 setores. A solenidade contou com a presença dos ministros Henrique Meirelles, da Fazenda, e Eliseu Padilha, da Casa Civil.
"Melhoria de infraestrutura, redução da burocracia, simplificação da tributação, são medidas bemvindas", disse Paulo Cesar de Souza e Silva, diretorpresidente da Embraer. De acordo com Souza e Silva, estabilidade e previsibilidade política e econômica no Brasil acabam favorecendo todas as empresas, mesmo as que, como a Embraer, dependem da demanda agregada do exterior.
Para José Galló, presidente da Renner, a Empresa de Valor deste ano, a realização de reformas, como da Previdência e trabalhista, não terá efeito no curto prazo, mas indicará um caminho para a economia, o que pode estimular as empresas a investir. Galló afirmou que é preciso ir além das reformas. "Vai ser preciso que o governo adote medidas de curto prazo para destravar a economia, como uma eventual abertura de importação ou facilitação para a tomada de crédito pelas empresas."
O sucesso na recuperação da economia depende da construção de um consenso em torno da necessidade das reformas, afirmou Pedro Parente, presidente da Petrobras. "Existia um fator importante para a crise, que era a incerteza derivada da situação política", disse. Segundo ele, com a confirmação de Michel Temer na Presidência foi retirado um obstáculo "importantíssimo". O presidente da Fibria, Marcelo Castelli, afirmou que Temer deve "trabalhar na construção de uma agenda de competitividade, com as reformas estruturantes necessárias para retomar o crescimento sustentável".
Visão semelhante tem o presidente da Braskem, Fernando Musa, para quem o crescimento sustentado deve ser enfatizado. "O Brasil precisa priorizar uma agenda de crescimento para as próximas décadas", disse Musa. "Uma agenda que passe pela priorização do setor industrial, que é capaz de gerar maior competitividade para a economia, e ataque os problemas estruturais, como a reforma tributária, legislação trabalhista."
A reforma trabalhista deve vir em primeiro lugar, avalia Graça Berneck, diretora comercial da Berneck, fabricante de painéis e produtos de madeira. A Carioca Engenharia acredita que a nova legislação trabalhista e a recuperação da confiança dos investidores com medidas de restrição orçamentária devem ser as prioridades do governo, disse o diretorgeral da empresa, Alfredo Collado.
A estabilidade política é uma condição fundamental para que o Brasil retome o crescimento econômico, pois permite fazer o ajuste fiscal ou a reforma da previdência, segundo Rodrigo Galindo, presidente da Kroton.
Parte dos empresários acredita que já esteja ocorrendo melhora da atividade. A Grendene começa a perceber leves sinais de reaquecimento do consumo. "Podemos perceber que a demanda, que durante certo tempo apresentou queda vertiginosa, agora cai mais devagar", diz Francisco Schmitt, diretor de finanças da empresa.
Julio Conejero, diretorgeral da Supera RX Medicamentos, joint venture de distribuição de artigos farmacêuticos entre Eurofarma, Cristália e MSD, disse já ver sinais de estabilização da economia. Ele também espera do governo reformas para retomar o crescimento.
O presidente da Sabesp, estatal de saneamento de São Paulo, Jerson Kelman, se disse otimista com o que classificou de recuperação da economia e sustentou que os sinais, "embora ainda tímidos", são notados a partir da "maior confiança que o setor produtivo e os consumidores vêm demonstrando, visualizando uma condução segura das contas públicas do governo federal".
A Arlanxeo Brasil, líder na produção de borracha sintética, percebe sinais de estabilização em sua área. Angelo Brazil, presidente da empresa, diz que percebe estabilização na demanda, ainda em níveis baixos, mas com indicadores de retomada em alguns setores, como calçados e reforma de pneus. O executivo acrescenta que a recuperação econômica será lenta.
Existe uma melhora de otimismo e das perspectivas positivas dos empresários, avalia Randal Zanetti, presidente do grupo Bradesco Seguros e diretorpresidente da BSP Empreendimentos Imobiliários. De acordo com o executivo, é possível perceber claramente que as pessoas estão acreditando que os próximos meses serão melhores que os passados e isso por si só já é um sinal de retomada da economia.
Buscar o equilíbrio das contas públicas, sem aumento de impostos, e fortalecer as políticas de promoção das exportações devem ser as prioridades, para o diretor superintendente da Epcos do Brasil, Reni Basei.
Segundo executivos e empresários, boa parte das empresas manteve seus investimentos, apesar da crise. "Independentemente do cenário político, a Braskem mantém uma sólida política de investimentos seja no Brasil seja no exterior", disse Musa. Para ele, a percepção é que o cenário econômico parou de piorar e vai cair menos.
Também o presidente da Sabesp acredita que em breve haverá retomada dos investimentos. Segundo ele, a prioridade do governo deve ser investimento em infraestrutura, com segurança para o setor produtivo e sinalizações de que as contas públicas estão controladas.
O presidente da Nutriza Agroindustrial, Francisco Tomazini, disse que a empresa está decidida a retomar investimentos a partir de 2017, mesmo que a crise não dê sinais claros de arrefecimento. Ele defende uma moeda mais compatível para as exportações e juros mais baixos. Já o presidente da Ferroport, Carsten Bosselmann, considera que a prioridade é gerar emprego, atrair investimentos e melhorar a educação de forma significativa.
As recentes manifestações contrárias ao governo Temer dividiram empresários e executivos. Schmitt, da Grendene, considera que os protestos "têm passado dos limites" e vê uma "confusão entre o direito à livre opinião e a tentativa de obrigar os outros a darem ouvidos ao que qualquer grupo queira manifestar".
"É importante que a sociedade civil tenha meios de expor suas demandas", afirmou Souza e Silva, da Embraer. Segundo ele, as manifestações são parte do processo democrático e não vê problema na eventual influência dos protestos na recuperação da estabilidade política. Os protestos não assustam, disse Castelli, da Fibria. "As manifestações são naturais da sociedade democrática."
Respeitada a integridade física das pessoas e do patrimônio público e privado, a manifestação de opiniões é legítima e natural numa sociedade democrática, em que as pessoas possuem como direito constitucional a liberdade de expressão", sustentou Musa, da Braskem.
Fonte: Valor Econômico
Data: 13/09/2016
Hora: 5h
Seção: Brasil
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