No Brasil, existem cerca de 200 empresas focadas em inovar e criar soluções financeiras, um número que vem aumentando exponencialmente nos últimos dois anos. Enquanto, as fintechs ainda são uma novidade por aqui, ao redor do mundo isso é bem diferente. Em poucos meses, mais de R$ 450 milhões foram investidos em empresas do segmento e, segundo a tendência mundial, esses números não devem diminuir tão cedo. É um mercado em constante crescimento, sem dúvidas. Mas, ao mesmo tempo, um tanto traiçoeiro para empreendedores iniciantes.
Primeiro porque quanto mais dinheiro você movimenta, recebe ou fatura, mais riscos vai ter. Apesar de termos melhorado a segurança na internet em alguns sentidos, esse ambiente ainda não é completamente seguro. Então, quanto mais sucesso você fizer, maior é a chance de atrair pessoas mal intencionadas. Nem cogite começar no ramo financeiro sem contar com um time técnico altamente capacitado em segurança da informação e de análise de risco para lidar com fraudes. Outra coisa que poucas pessoas pensam é no bom relacionamento com os órgãos de prevenção à lavagem de dinheiro e fraude (COAF). É preciso antecipar-se aos riscos eminentes da sua operação.
Ao contrário do que pode parecer para o empreendedores, o sucesso, nesse caso, é seu maior inimigo. Sabe o motivo? Quanto mais mercado você tiver, mais startups e empresas estabelecidas tentarão copiá-lo. O caso mais clássico é o Nubank, que gerou como reação do Bradesco a criação do Digio. Se você não tiver uma visão clara de onde você quer chegar e executar o plano, ajustando essa visão de acordo com os desafios que o mercado irá colocar, dificilmente sua ideia irá para frente.
Outra coisa para analisar é que o próprio ambiente tecnológico está propício a inovações completamente disruptivas. Tecnologias como blockchain e crypto moedas como Bitcoin ou Etherium, podem acabar com a sua inovação. Aconselho a quem não sabe o que isso significa a correr contra o tempo, porque o blockchain vai transformar a maneira como lidamos com a transferência de dinheiro. O propósito dessa inovação é ser uma tecnologia que registra permanentemente transações de forma distribuída, sem a necessidade de entidades centralizadoras que garantam a confiabilidade da informação, como um cartório sem o papel do notário. E, assim como toda revolução, algumas ideias e serviços tendem a sofrer grandes perdas. Nesse caso específico, duvido que empresas de transferência de valores entre contas e países, por exemplo, sobrevivam à adoção em massa do blockchain.
Deixo por último o ponto mais importante a ser considerado antes de criar alguma fintech: a legislação. Precaver-se é sempre a melhor decisão. Portanto, antes de infringir alguma lei ou gerar processos civis - como emprestar dinheiro sem ser uma instituição financeira -, contrate um escritório de advocacia com experiência na área e peça uma consultoria. Isso poderá salvar anos de investimento em vão e talvez até alguns dias na polícia. Algumas fintechs no Brasil tiveram que pagar muito dinheiro devido a processos civis. Por isso, voltamos ao ponto-chave para a concepção de uma empresa financeira: todo cuidado é pouco quando se fala de lidar com o dinheiro dos outros.
Se investir em fintech é o que você quer, foque muito na execução. Durante as mentorias, como a que realizei no Founder Institute, a ideia não é assustar os aspirantes a empreendedores financeiros. Pelo contrário. Sei, por experiência própria, que essa é uma área repleta de erros e acertos. A idéia inicial, com certeza, mudará ao longo da trajetória da empresa e a capacidade de adaptação ao mercado é o principal fator de sucesso. Sim, o desafio não é para qualquer um, mas pode ser a melhor alternativa profissional para o seu caso. Não desista.
(*) Piero Contezini é CEO e cofundador da fintech Asaas
Fonte: CIO
Data: 21/11/2016
Hora: 19h14
Seção: Opinião
Autor: Piero Contezini
Link: http://cio.com.br/opiniao/2016/11/21/fintechs-o-desafio-nao-e-para-qualquer-um/