Alerta em Davos: A sociedade não está acompanhando o ritmo da mudança tecnológica

18/01/2017

Em debate esta semana no Fórum Econômico Mundial, a edição 2017 do “Global Risks Report”, elaborado pela Marsh, aponta a inteligência Artificial (IA) e a robótica como as tecnologias com maiores chances de gerar consequências negativas. E, justamente por isso, exigem uma melhor governança. Até porque, a sociedade não está acompanhando o ritmo da mudança tecnológica, e isso é ruim. 

"Vivemos em tempos de ruptura, onde o progresso tecnológico também cria desafios. Sem a devida governança e re-qualificação dos trabalhadores, a tecnologia irá eliminar postos de trabalho mais rápido do que criá-los. Os governos não podem mais fornecer os mesmos níveis históricos de proteção social e uma narrativa anti-establishment ganhou força, com novos líderes políticos culpando a globalização pelos desafios da sociedade, criando um ciclo vicioso em que o menor crescimento econômico só amplificará a desigualdade. A cooperação é essencial para evitar a crescente deterioração das finanças públicas e a exacerbação da agitação social", disse Cecilia Reyes, Diretora de Risco da Zurich Insurance Group.

O Global Risk Report 2017 aponta as principais tendências que irão moldar o desenvolvimento global nos próximos 10 anos. A tendência da Quarta Revolução Industrial exacerbar os riscos globais é analisada neste âmbito. A Inteligência Artificial e a robótica, apesar do seu potencial para impulsionar o crescimento econômico e resolver desafios complexos, são também identificadas como o principal motor de risco econômico, geopolítico e tecnológico entre as 12 tecnologias comentadas no relatório.

 

"A inteligência artificial nos permitirá abordar de forma muito mais eficaz algumas das grandes questões da nossa era, como as mudanças climáticas e o crescimento populacional", disse John Drzik, presidente da Global Risk & Specialties. Com o investimento em IA, agora dez vezes maior do que era há cinco anos, avanços rápidos estão sendo feitos. No entanto, o aumento da confiança na tecnologia irá exacerbar dramaticamente os riscos existentes, como o da ciber dependência, tornando o desenvolvimento de medidas de mitigação algo absolutamente crucial.

O relatório resume análises de 750 especialistas sobre 30 riscos globais e 13 tendências decorrentes deles. Ao longo dos anos, “tem apontado fatores de risco que podem ser detidos ou revertidos através da construção de sociedades mais inclusivas, para as quais a cooperação internacional e o pensamento a longo prazo são vitais”, dizem os responsáveis pelo estudo. Em 2006, o Global Risks Report alertou para o facto de a “eliminação da privacidade reduzir a coesão social”. Na época, classificado como pior cenário, com uma probabilidade de menos de 1%.

Em 2013, muito antes da “pós-verdade” se tornar a palavra do ano de 2016, o Global Risks destacou “a rápida disseminação da desinformação”, observando que a confiança estava sendo corroída e que eram necessários incentivos para proteger sistemas de controle de qualidade.

O ano passado, 2016, foi a vez do alerta para os impactos tecnológicos da Quarta Revolução Industrial (4iR), que na hoje, na visão dos responsáveis pelo estudo, (4IR) inevitavelmente transformarão o mundo de muitas maneiras - algumas desejáveis, ?outras não. De que forma e com que intensidade os benefícios serão maximizados e os riscos mitigados são fatores que dependerão da qualidade da governança - as regras, normas, padrões, incentivos, instituições e outros mecanismos comumente usados para moldar o desenvolvimento e a implantação de cada tecnologia em particular.

"Frequentemente, o debate sobre tecnologias emergentes ocorre nos extremos de respostas possíveis: entre aqueles que focalizam intensamente nos ganhos potenciais e os que se debruçam sobre os perigos potenciais. O verdadeiro desafio reside na navegação entre esses dois pólos: construir entendimento e conscientização dos trade-offs e tensões que enfrentamos, e tomar decisões informadas sobre como proceder. Esta tarefa está se tornando cada vez mais urgente à medida que a mudança tecnológica se aprofunda e se acelera, e à medida que nos tornamos mais conscientes do impacto sociológico, político e mesmo geopolítico atrasado de ondas anteriores de inovação", alerta o relatório.

Dilemas de Governança

Como governar as tecnologias emergentes é uma questão complexa, na opinião dos autores do relatório. Impor restrições excessivamente rígidas ao desenvolvimento de uma tecnologia pode atrasar ou prevenir potenciais benefícios. Mas a incerteza regulatória continua: os investidores estarão relutantes em apoiar o desenvolvimento de tecnologias que eles temem que sejam proibidas ou evitadas mais tarde se a ausência de governança efetiva levar ao uso irresponsável e à perda de confiança pública.

Segundo o relatório, já hoje a  governança das tecnologias emergentes é desigual: algumas são fortemente regulamentadas e outras quase não se encaixam sob o mandato de qualquer órgão regulador existente. Frequentemente, não existem mecanismos para que os responsáveis ??pela governança interajam com as pessoas que estão na vanguarda da pesquisa. Mesmo quando as informações de campos relevantes podem ser combinadas, pode ser difícil antecipar que efeitos de segunda ou terceira ordem precisam ser protegidos: a história mostra que os benefícios e riscos de uma nova tecnologia podem diferir muito da opinião de especialistas.

O alerta prossegue, relatando que a crescente conscientização popular sobre os dilemas associados à governança de novas tecnologias pode ser comprovado na análise da mídia: menções relevantes de tais dilemas nas principais fontes de notícias dobraram entre 2013 e 2016. E que o potencial das tecnologias emergentes para promover a disrupção de modelos de negócios estabelecidos é grande e crescente. 

"É tentador pensar que a ruptura tecnológica envolve momentos dramáticos de transformação, mas em muitas áreas a disrupção causada pelas tecnologias emergentes já está silenciosamente em andamento, resultado de uma evolução gradual em vez de uma mudança radical", afirma o relatório, citando como exemplo os veículos autônomos. "Ainda não estamos num mundo de veículos que requerem pouca ou nenhuma intervenção humana, mas as tecnologias que sustentam a autonomia estão cada vez mais presentes em nossos carros "comuns".

O que fazer?

Na opinião dos autores do relatório, um dos desafios para responder à aceleração da mudança tecnológica no âmbito da 4IR será garantir que a evolução da nossa infraestrutura social crítica mantenha o mesmo ritmo das mudanças tecnológicas. "Precisamos ser melhores em gerir as mudanças tecnológicas e precisamos fazê-lo rapidamente", concluem os autores. "Acima de tudo, temos de redobrar os nossos esforços para proteger e fortalecer nossos sistemas da colaboração global", concluem.

 

Fonte: CIO
Data: 17/01/2017
Hora: 17h46
Seção: Notícias
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