Discutir a desburocratização para inovação será um dos desafios do Fórum Permanente de Desenvolvimento do RJ em 2017

08/03/2017

Este ano a secretária-geral e jornalista Geiza Rocha completa nove anos à frente do Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de Janeiro. Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, conversamos com a carioca sobre o funcionamento e os desafios do Fórum, o papel da mulher no mercado de trabalho, as conquistas dos últimos anos e muitas outras questões.

O que exatamente é o Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio?

Geiza Rocha: O Fórum, criado pela Alerj em 2003, tem o intuito de promover a interação entre as entidades da sociedade civil organizada, o poder público e as universidades e para estimular, em caráter permanente, ações que contribuam para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Estado do Rio de Janeiro. Inicialmente, ele foi formado por 18 entidades que assinaram a participação e o ingresso no Fórum. Com o passar do tempo, a iniciativa foi sendo ampliada a partir do interesse de outras entidades. Hoje, ele é composto por 39 entidades da sociedade civil organizada que se reúnem, periodicamente, para acompanhar o trabalho legislativo, monitorar políticas públicas e debater propostas para o desenvolvimento do nosso estado.

Como é que isso acontece na prática?

Geiza Rocha: Eu organizo reuniões mensais com oito Câmaras Setoriais (Agronegócio; Cultura, Turismo e Esportes; Desenvolvimento Sustentável; Economia Criativa; Energia, Infraestrutura e Logística; Tecnologia e Inovação; Gestão e Políticas Públicas) e a agenda delas é trazida pelas próprias entidades, por membros indicados pelas presidências e reitorias das instituições que fazem parte do Fórum. É por meio das Câmaras Setoriais que ficamos sabendo o que a sociedade quer ver na pauta do Legislativo. Além disso, juntamos esforços para realizar debates, seminários e audiências públicas em prol do desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro.

E no campo da tecnologia, como o Fórum atua?

Geiza Rocha: Já não é de hoje, que a Câmara Setorial de Tecnologia e Inovação tem uma atuação bastante importante. Em 2008, participamos da discussão da Lei de Inovação Tecnológica, que permitiu uma maior sintonia entre empresas e universidades para desenvolver inovação. E de tempos em tempos, a gente vem avaliando de que forma essa Lei avançou e o que precisa ser feito para consolidar outros pontos que eram inovações na época e que ainda precisam ser consolidados.  Além disso, a Câmara Setorial de Tecnologia e Inovação discute uma série de temas ligados ao dia a dia. Este ano, por exemplo, o nosso maior desafio será discutir a desburocratização para inovação. Temos que olhar para os gargalos em cada uma das ações que precisam ser resolvidas e pensar em propostas para o Legislativo. Em seguida, estas propostas serão apresentadas de forma mais estruturada, seja por meio da organização de eventos ou transformando-as em Projetos de Lei.

O que precisa ser feito para que o setor de TI possa servir como ferramenta geradora de desenvolvimento, emprego e renda para a população do Rio de Janeiro?

Geiza Rocha: A Tecnologia da Informação (TI) tem que estar dentro do Planejamento Estratégico dos governos. Fala-se muito de incentivo fiscal, mas é preciso reconhecer o espaço que formam esses profissionais, a forma como atuam no mercado e que tipo de produto desenvolvem. Uma integração maior entre eles é fundamental. O Fórum já discutiu há algum tempo a importância dessas empresas e desses profissionais apresentarem os seus trabalhos e começarem a responder os desafios do próprio governo nos diversos setores. Temos que ter uma atuação bastante forte, é um desafio que nós nos colocamos como palco e espaço para tratar esses assuntos mais duros. Além disso, cabe  aos sindicatos e associações trazerem ao poder público como as tecnologias podem de fato tornar os serviços mais acessíveis a população de uma maneira em geral.

Como você avalia o papel e as oportunidades das mulheres no mercado de trabalho, em especial na TI?

Geiza Rocha: Eu tenho estudado muito sobre isso, porque um dos objetivos do Desenvolvimento Sustentável é criar mais oportunidades para as mulheres no mercado de trabalho, não só na Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), mas em diversas áreas onde os homens dominam. Eu tenho observado que muitos movimentos internacionais apostam muito no empoderamento e no ingressamento da mulher na ciência, tecnologia, engenharia e matemática. A ideia de que mulheres não gostam de Ciências Exatas, acabam por excluí-las das oportunidades que existem nessa área. Acredito que uma maior presença de mulheres nas Ciências Exatas depende de estímulo, políticas públicas, mas também outras ações a serem abertas, como o homem olhar para o feminino como complementar e não como oposto.

O que falta para o Rio voltar a ser a capital da informática?

Geiza Rocha: Falta criar e estruturar um ecossistema de maneira mais objetiva, trabalhar quais são as competências e como se desenvolve no Rio de Janeiro um espaço para que essas empresas se estabeleçam e possam competir com outras cidades e ou estados. Enfim, falta um olhar mais direcionado para o tipo de retorno que as corporações podem trazer para quando o governo faz esse esforço por meio de políticas públicas de atração e de retenção dos talentos em seu território.

Nesse momento de crise no Estado, o que podemos esperar do Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio?

Geiza Rocha: Neste cenário de crise econômica, o Fórum tem buscado reconhecer as dificuldades que a gente tem no momento, atrair quem possa dar bons conselhos, além de trazer a visão do que está acontecendo no mundo. Enfim, nós não vivemos em uma “ilha”, precisamos olhar o tempo todo para o que está acontecendo lá fora. Além disso, estamos atentos para os setores que temos e que não podemos deixar morrer porque a crise está instalada. Em momentos de dificuldade, as visões são muito difusas, as pessoas ficam muito confusas com o que precisa ser feito. Então, buscamos nesse processo não perder de vista que tem muita coisa acontecendo e que não podemos deixar que essas iniciativas morram.

Como você se sente atuando, cotidianamente, na defesa dos direitos e da valorização das mulheres no Estado do Rio?

Geiza Rocha: O nosso desafio é criar condições para que a discussão aconteça. Não podemos nos convencer que as coisas estão prontas, e por isso não temos trabalho. Pelo contrário, no Rio de Janeiro, mais do que nunca, temos muito trabalho pela frente, seja para chegar aos altos cargos, para poder expressar a nossa competência e poder se reunir e olhar outras mulheres de forma que elas nos ajudem. 

E sobre as conquistas das mulheres nos últimos anos, o que você tem a dizer?

Geiza Rocha: Na política, temos exemplos muito interessantes, tive a honra de conhecer a deputada Heloneida Studart, que foi uma defensora dos direitos das mulheres e da política brasileira. Atualmente, nós temos no parlamento um número cada vez maior de mulheres atuando. Acho isso muito importante porque elas trazem um olhar diferenciado e outras prioridades para a discussão da política. Em termos de conquistas, seriam ações mais pontuais entre uma coisa e outra. Aqui no legislativo, quando a gente começou a olhar os objetivos do Desenvolvimento Sustentável percebemos que existe um número grande de mulheres diretoras no parlamento e isso é muito interessante.

Dia Internacional da Mulher - O que torna essa data tão especial?

Geiza Rocha: Eu acho importante ter datas que lembrem das lutas que fizeram com que a gente alcançasse determinados espaços, mas quando eu vejo todo o esforço que é feito, por exemplo, para a inclusão de deficientes no mercado de trabalho, se vê que o mundo não é igual e que precisamos ter uma sociedade mais inclusiva, de uma forma mais ampla. É importante valorizarmos essa data, mas a gente também precisa utilizar o Dia Internacional da Mulher para falar da necessidade que nós temos de trazer para o mundo uma visão mais feminina, mais terna, mais materna e mais solidária com todas as exclusões que existem no dia a dia.

Texto e edição: Cristiane Garcia