Em um mundo perfeito, homens e mulheres conviveriam de forma igualitária em suas carreiras profissionais. Porém, a verdade é que esta realidade ainda está longe do ideal. Com o passar dos anos percebemos que, pouco a pouco, as barreiras vão sendo quebradas e as mulheres estão conseguindo atingir pontos importantes para que essa igualdade ocorra.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano 2000, 50,1% das mulheres brasileiras participavam ativamente do mercado. Em 2010, esse número cresceu para 54,6%. Segundo dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio), de 2009, 20% das vagas no mercado de Tecnologia da Informação (TI) eram compostas por mulheres.
- Infelizmente, o preconceito existe e a mulher acaba sendo julgada como menos capaz, pois a TI ainda é uma área predominantemente masculina, com muitas vagas voltadas especificamente para o público masculino, afirma Meriellen da Silva Silveira, desenvolvedora Front-end da Dzaine.net.
As dificuldades e o preconceito não foram suficientes para afastar essas mulheres do sonho de atuar com tecnologia. Silmara Ribeiro, programadora trainee da Nasajon Sistemas, conta que não teve acesso a computadores por boa parte da vida, pois pertencia a uma família com menos recursos, mas tinha muita curiosidade em conhecer esse universo.
- Eu assistia filmes como Jumanji e Jurrasic Park e queria muito saber como eram feitos, e tudo que meus pais e tios me diziam era que "isso é coisa de computador". Infelizmente, nenhum deles conseguia me explicar o que era "esse tal de computador”. Nessa época (década de 90) falava-se cada vez mais sobre o assunto, sobre como a tecnologia estava dominando o mundo e de alguma forma eu sabia que eu tinha que fazer parte disso, eu tinha que pelo menos saber o que era.
Para Silmara Ribeiro, todas as mulheres que ela conhece são excelentes profissionais, mas isso não quer dizer que sejam superiores aos homens, nem inferiores. Porém, segundo a avaliação da programadora, as mulheres ainda têm muito mais dificuldade de chegar ao mesmo patamar que os homens chegaram.
- Em termos de desenvolvimento, ouvi muitas histórias parecidas com as minhas. As mulheres que conheço tiveram muito mais trabalho para chegar onde estão hoje do que os homens que conheci. Para os homens com quem conversei sempre foi natural, a maioria já cresceu com um computador por perto, seja em casa ou na casa de colegas, e o conhecimento sobre o assunto sempre chegou até eles.
A programadora da Nasajon Sistemas afirma que, as mulheres que ela conhece, inclusive ela, precisaram de algo a mais para se destacar no mercado: A motivação.
- A maioria das minhas amigas tiveram que procurar por isso, criar o interesse, procurar se informar, se esforçar muito para aprender. Se elas estão hoje trabalhando com TI, foi porque se interessaram muito e superaram todas as adversidades que a gente encontra pelo caminho. Acho que isso influencia bastante na qualidade do trabalho, já que elas realmente querem estar ali, e lutaram tanto para conseguir.
Para o mercado de trabalho nada é mais importante que um candidato qualificado e certificado. Não basta saber fazer, tem que comprovar que foi certificado e apto a exercer a função. Para Vanessa Brandão, analista de sistemas sênior da Claro Brasil, a dica para futuras gerações de mulheres na TI é: suba os degraus passo a passo, como em um jogo de videogame.
- Sempre que você passa de level, você desenvolve algo que necessita para a próxima etapa até chegar ao chefão, e o que vai fazer você passar de fase são suas melhores qualidades e o que vai fazer repeti-la, é onde você tem que melhorar.
Para Celiane Borges, analista de infraestrutura sênior na M4 Produtos em Telecomunicações, os principais diferenciais para uma mulher no comando de setor em TI é a concentração.
- As mulheres não esquecem com facilidade as coisas, quando estamos no comando, tratamos a equipe como se fossem nossos filhos e puxamos a orelha quando temos que puxar.
Já para Scarlett Bezerra, analista de Requisitos Pleno na Capgemini, o diferencial está nos detalhes.
- Nós mulheres, em sua maioria, conseguimos muitas das vezes trazer os detalhes à tona facilitando o desenrolar do projeto. Na minha área, que é a de requisitos, esse item é essencial. Identificar possíveis gargalos no desenvolvimento com antecedência faz com que o prazo seja mais bem calculado, a solução seja mais bem pensada e o cliente receba com qualidade o que foi solicitado.
Se você chegou ao fim desse texto com uma vontade maior ainda de seguir carreira em TI, siga o conselho dado pela Silmara Ribeiro.
- Façam! Pensem, experimentem, pesquisem e conversem com pessoas da área para tirar dúvidas! Não é tão difícil quanto as pessoas fazem parecer. De fato, a parte mais difícil é lidar com as pessoas! Não seus amigos, professores ou colegas de trabalho, porque normalmente esses vão te apoiar, mas as outras pessoas! As pessoas que não são dessa área (parentes, vizinhos, conhecidos, etc), por não entenderem muito, tendem a te convencer sobre dificuldades que talvez nem existam, e tentam te "empurrar" para áreas que eles acham mais apropriadas. Apenas ignore essas vozes, e siga! É você que conhece suas vontades e suas limitações, então é você quem decide o que faz ou não. Outro conselho clichê, mas faço questão de falar: aprenda inglês. Esse idioma é indispensável nessa área, já que boa parte do material que você precisará não terá sido desenvolvido no Brasil. Sem contar as novas pesquisas que vão surgindo, a maioria jamais vai ser traduzida, então se você não se dedica a falar outra língua, você deixa de ter acesso à boa parte do conhecimento disponível.
Texto: Ricardo Guimarães Edição: Cristiane Garcia