Apaixonada por jogos e animes, a desenvolvedora de software Paula Grangeiro aprendeu desde pequena a se virar para jogar os games mais atualizados do mercado.
“Eu sempre me envolvi muito com videogames, passava horas e horas com meu super Nintendo, e meu interesse em computadores também começou por causa dos jogos. Aos poucos além de jogar, fui me interessando por hardware e passei a tunnar o meu próprio computador para poder acompanhar a evolução dos games”, conta.
O destino não podia ser outro. Aos 16 anos, ganhou de uma tia um livro de Visual Basic 5 e desenvolveu uma aplicação para catalogar seus animes. Fazer de seu hobbie uma profissão parecia um caminho natural. E foi.
“Como sempre passei muito tempo com computadores, após terminar o ensino médio acreditava que seguir uma carreira nessa área seria o ideal para mim”, disse a desenvolvedora.
O tempo passou, Paula concluiu a graduação em Sistemas de Informação e hoje atua em dois projetos gratuitos no Rio de Janeiro - PyLadies e Django Girl - que buscam aproximar mulheres sem nenhuma experiência ao mundo da programação. De quebra, ela ajuda a revelar alguns talentos.
Além desses projetos, batemos um papo com Paula Grangeiro sobre preconceito, inclusão da mulher na programação e suas motivações para ajudar as novas gerações de mulheres na TI.
“Não sei se inspiro essa nova geração de programadoras, mas me sinto realizada quando as vejo".
Bate papo com Paula Grangeiro:
Você participa de projetos aqui no Rio, PyLadies e Django Girls, que ensinam meninas a programarem, me conta um pouco sobre isso? Como funciona?
O PyLadies é uma organização mantida pela Python Software Foundation e o objetivo é aumentar o número de mulheres líderes na comunidade Python. No PyLadies promovemos encontros com palestras e/ou workshops. Já o Django Girls é uma organização independente sem fins lucrativos, com objetivo de promover workshops gratuitos de Python e Django onde mulheres sem nenhum conhecimento técnico terão a oportunidade de ter um primeiro encontro com esse mundo da programação.
Esses projetos são uma resposta à baixa participação das mulheres na programação? Quantas mulheres vocês conseguem atingir por edição?
Sim! A quantidade de pessoas que conseguimos atingir é proporcional ao quanto conseguimos arrecadar para a realização do evento, pois como os eventos são organizados por voluntários e a grande maioria deles é totalmente gratuita, o custo é uma limitação real. Na primeira edição do Django Girls Rio de Janeiro, por exemplo, recebemos mais de 400 inscrições para apenas 30 vagas.
Já conseguiram colher alguns frutos ao revelar profissionais em potencial para o mercado?
Sim! Alguns casos que posso citar são o de uma participante do Django Girls hoje trabalha no exterior com Python, e de outra que hoje é consultora em uma multinacional de desenvolvimento de software. E que não são os únicos.
O que te motiva a ser uma incentivadora das próximas gerações? Elas te veem como um espelho?
A minha maior motivação é ver que hoje divido espaço em empresas, em conferências, com alguém que já foi participante de algum evento que tive a oportunidade de organizar. Que mulheres que um dia estavam na posição de ouvinte hoje compartilham o conhecimento adquirido através da internet, palestras e workshops. Não sei se inspiro essa nova geração de programadoras, mas me sinto realizada quando as vejo.
Como vocês lidam com o preconceito nessa área onde a maioria ainda é de homens?
É difícil, como qualquer preconceito, então você tem que ser "dura" senão não sobrevive na área. Muitas não conseguem se adaptar e acabam desistindo, acreditando que a área não é pra elas. Mas eu sou bem positiva com o futuro e acredito que aos poucos iremos conquistar o nosso espaço.
O Dia Internacional da Mulher é uma data histórica que marca a luta por igualdade. Essa luta já deu passos importantes, mas o que ainda pode ser feito pelas atuais gerações e pelas próximas?
Acredito que a luta por igualdade é uma tarefa diária, então é sem dúvida tanto meu trabalho quanto das gerações futuras. Estamos avançando aos poucos nos índices de ingresso nas graduações tecnológicas, no mercado de trabalho, mas ainda temos muito a se trabalhar quando o assunto é igualdade salarial, número de mulheres em cargos de liderança e até mesmo número de mulheres empreendedoras. Ou seja, ainda existe muito trabalho pela frente!