MCT quer diminuir déficit em produção de displays LCD no Brasil

07/01/2009

O desequilíbrio da balança comercial brasileira na área de hardware sempre foi um problema para o País. De acordo com um levantamento feito pelo governo federal, um dos vilões do déficit comercial no segmento é a importação de displays, considerado um dos componentes mais caros e críticos dos equipamentos produzidos por diversos setores econômicos (eletrônica, informática, telecomunicações, telefonia, automação industrial, propaganda e marketing etc.).

Segundo dados do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o atual déficit em displays do País está em 1,5 bilhão de dólares ao ano, com tendência de crescimento ao longo dos próximos anos. Por conta disso, o governo federal estabeleceu, como parte da Política de Desenvolvimento Produtivo para a área de tecnologia, uma política industrial específica para displays.

O objetivo é estabelecer uma capacidade produtiva nacional em displays planos - conhecidos como "flat" - até 2010, sob pena de se comprometer a competitividade dos diversos setores que dependem desses mostradores de informação.

O primeiro passo foi dado pela Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia, que delegou ao Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), de Campinas (SP), a definição das ações que deverão permitir estabelecer no Brasil, até 2010, a capacidade produtiva em displays de tecnologia consolidada, como é o caso dos displays de cristal líquido (liquid crystal displays ou LCDs).

De acordo com Victor Mammana, pesquisador chefe da Divisão de Mostradores da Informação e gerente do programa federal, o déficit registrado no setor acendeu o sinal amarelo. “Este déficit é reflexo da obsolescência de nossa indústria de tubos CRT, que ficou para trás com o advento das telas LCD e plasma”, compara.

Para a inserção do País no mercado de displays com tecnologia consolidada, a equipe comandada por Mammana mapeou a cadeia produtiva dos displays. “Ali identificamos elos que não são tão sofisticados, mas que representam grandes volumes de produção, como módulos LCD, drivers, unidades de backlight e lâmpadas”, diz.

A partir deste mapeamento, concluído há cinco meses, o governo federal deve estimular empresas nacionais a produzir estes itens, o que colocaria o Brasil como potencial fornecedor de grandes fabricantes já consolidados em países como a Coréia.
Futuro

Na outra ponta do programa, Mammana trabalhou na identificação de novas tecnologias que, se estimuladas desde já, poderão colocar o país na ponta do mercado fornecedor. Com isso o Brasil deverá se capacitar em pelo menos uma tecnologia emergente, como é o caso dos OLEDs (sigla em inglês que significa diodos orgânicos emissores de luz). “Há outras tecnologias em estudo, como displays flexíveis, reflexivos e de baixo consumo. Se o Brasil quiser participar deste mercado, tem que entrar agora”, lembra o pesquisador, lembrando que o prazo é apertado, mas que há a possibilidade de algumas iniciativas estarem em funcionamento já em 2010.

O foco desta política é o estabelecimento de atividades industriais de alto conteúdo tecnológico, competitivas globalmente, cuja viabilidade econômica não seja dependente apenas da substituição de importações. Serão seguidas iniciativas de sucesso no mundo, como por exemplo, a de Taiwan, que em apenas oito anos (de 1992 até 2000) passou da condição de não ter nenhuma fábrica de LCD para a de exportadora com 22% do mercado global.
De acordo com a política, o país deve buscar um parceiro internacional disposto a participar de um esforço de produção local. O principal instrumento para isso é o Programa de Atração de Investimentos em Displays (PAIED). Os potenciais investidores terão várias opções de apoio de entidades como o BNDES, seja na forma de financiamento como de capitalização.
Um dos exemplos é dado pelo próprio CTI, que vem realizando pesquisas na área de displays em conjunto com a HP. Mammana não revela detalhes, mas de acordo com ele, o projeto conta “com o maior investimento privado feito no país para o desenvolvimento de displays”.
Esforços para reduzir gargalos que prejudicam a competitividade de empresas também estão em andamento, via instrumentos como o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (PADIS), que oferecem incentivos a empresas que investirem em pesquisa e desenvolvimento (P&D). No papel, parece bom, resta aguardar sua aplicação, e resultados práticos.

Site: IDG Now!
Data: 06/01/2009
Hora: 09h36
Seção: Mercado
Autor: Fabio Barros
Link: http://idgnow.uol.com.br/mercado/2009/01/06/mct-quer-diminuir-deficit-em-producao-de-displays-lcd-no-brasil/paginador/pagina_2