Exterminador de Livros ou Visionário do Futuro?

22/06/2009

A notícia correu o mundo na velocidade da Internet e causou enorme rebuliço entre os educadores. O "Exterminador do Futuro" e atual Governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, apresentou um plano para substituir os livros didáticos tradicionais nas escolas californianas por recursos digitais. O principal motivo apontado foi economia de dinheiro. Segundo reportagem da BBC, o estado da Califórnia gastou no ano passado cerca de US$ 350 milhões com livros didáticos e, como se tem notícia, a região passa por um momento financeiro bastante complicado, assim como todo o seu país. Não estamos aqui para questionar nem debruçar sobre as razões mercadológicas da medida, embora, não se possa esquecer, que Schwarzenegger é Governador de um dos estados mais ricos, senão o mais rico do mundo, mesmo que em tempos de crise. Ou seja, devemos levar em conta que o número de computadores por aluno na Califórnia é bem maior que no Brasil. E isso faz uma grande diferença no resto da conversa. A questão central é analisar a notícia sob a ótica da inovação que envolve o desenvolvimento de novas formas de ensino através das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) versus a não mais utilização nas escolas do veículo de comunicação mais famoso e difundido em todos os tempos: o livro. O alvoroço foi grande entre os educadores por toda a parte do mundo. Aqui no Brasil a reação foi sentida na imensa troca de mensagens, através dos inúmeros sites e blogs relacionados ao assunto. As opiniões foram divergentes. Alguns educadores mais conservadores, com os quais conversamos, ficaram escandalizados e reagiram prontamente: "Esse cara é uma besta quadrada, quer acabar com o livro escolar, com o hábito de leitura das pessoas". A gritaria foi grande. Outros, porém, seguiram a direção exatamente contrária, chegando a aplaudir o fim do livro didático que, de acordo com as palavras de uma renomada professora, "engessa e limita o educador, tornando-o um mero repetidor de um conteúdo programático imposto ao aluno, dentro de uma sala de aula". "Vivam as novas tecnologias, viva a Internet e abaixo os livros didáticos! Salvem as nossas árvores", diriam os ecologistas mais apaixonados! Nem tanto ao céu, nem tanto a terra, não é mesmo? Para dizer o mínimo, é precipitado crer que as novas tecnologias irão substituir o livro, seja no processo de ensino e aprendizagem, seja para qualquer outro propósito que se possa imaginar. Assim como, equivocadamente, achou-se que a TV iria substituir o rádio um dia e que a Internet, assim que surgiu com toda sua roupagem industrial, iria substituir tudo mais que antes existia. Mas é sem dúvida fácil imaginar um cenário onde diferentes meios de entrega de conhecimento (presencial, web, impresso, áudio-visual, mobile etc.) e mecanismo de construção de aprendizado diversos (auto-estudo, tutoria, comunidades virtuais, blogs e wikis, por exemplo) tenham o seu papel específico na solução educacional ofertada aos alunos. O objetivo final desse "mix" ou "blend", como costumamos dizer no nosso jargão de mercado, é o que hoje se denomina NewLearning. Ou seja, a nova maneira de se ensinar e aprender traz em si uma grande contribuição das TICs. Essa é a grande tendência. E é isso que estamos presenciando hoje nas sociedades mais avançadas. Isso não é futuro. Estamos falando de um presente que está sendo construído numa velocidade vertiginosa. Tudo é muito fascinante, mas existe um grande problema. Enquanto existirem comunidades isoladas no mundo como Cafundó, no interior do Ceará, o livro, seja lá qual for, continuará a ser o único instrumento de ensino e aprendizagem. E esse é um cenário bem distante da realidade do Governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger.*Alex Lucena e Daniel Orlean, sócios das empresas EduWeb e Milestone, respectivamente.