Mundo das telecomunicações indo para banda larga, mobilidade e convergência fixo-móvel
08/07/2009
Tais tendências foram discutidas durante o Americas Com, ocorrido no Windsor Barra Hotel, no Rio de Janeiro, de 30 de junho a primeiro de julho, uma realização do Informa & Media Group. O evento, para a América Latina, teve estudos de caso, palestras e minifeira, abordando o tema-ônibus "Estratégias Comerciais e Tecnológicas para mercados de telecomunicações em mudanças". Foram estrelas do show: a banda larga móvel, a plataforma IP (Internet Protocol) e a fome por mais espectro.
O mundo encerrou 2008 com 186 milhões de acessos de banda larga móvel, um crescimento de 84% em relação a 2007. Na América Latina, ano passado, lideraram o crescimento de acessos móveis Brasil, México, Honduras e Peru.
As tecnologias de banda larga móvel HSPA (high speed packet access) e LTE (long term evolution), preconizada pelo 3GPP (Third Generation Partnership Project), oriundas do mundo GSM (global system for mobile), vão dominar 72% do mercado global nos próximos cinco anos (2013). Serão seguidas pelas tecnologias do 3GPP2 (linha CDMA 2000), com 22%; e pelo Wimax, com 6%, disseram observadores do Informa & Media Group.
Para a América Latina, o crescimento das comunicações móveis CAGR (compound annual growth rate) em banda larga, que foi de 62% entre 2008 e 2013, será bem maior que o CAGR (3%) das comunicações móveis não banda larga. A tecnologia dominante para a banda larga móvel 3G, a curto e médio prazos, será a HSPA (14 Mbit/s) e seu upgrade HSPA+ (28 Mbit/s), ambas caminhando a longo prazo para o LTE (100 Mbit/s).
"A banda larga móvel chegou na América Latina e vai requerer uma nova regulação do espectro. Os aparelhos inteligentes (smart phones) e os laptops são ingredientes-chave para a Internet móvel. As tecnologias HSPA e HSPA+ serão inicialmente utilizadas. Há necessidade de mais espectro", foram os recados básicos deixados por Chris Pearson, presidente da 3G Americas.
A Banda larga móvel
O forte crescimento da banda larga móvel deu o tom do evento e no qual o Brasil brilhou. "As redes de terceira geração (3G) vão ajudar os indivíduos a se conectar mais", afirmou José Augusto de Oliveira Neto, da Vivo, que defendeu a necessidade de espectro adicional, mais eficiência em seu uso e de compartilhamento da infra-estrutura.
Decio Farias, da Claro, afirmou que "as pessoas estão cada vez mais conectadas entre si para fins pessoais e profissionais e desejam a mobilidade. Existem 2,5 vezes mais celulares que computadores no Brasil; e, para muitos, o celular será o acesso principal à Internet". O "barômetro Cisco de banda larga" (fixa e móvel) indica que, em 2008, no Brasil, 59% dos acessos foram em tecnologia ADSL (asyncrhonous digital subscriber line) sobre a rede de cobre; 22% utilizaram cable modem das redes de TV a cabo; 17% os acessos móveis; e 2%, outros acessos.
"O apetite do mundo para a banda larga é real, seja para baixar jogos ou músicas, utilizar aplicações georrefenciadas (com GPS – global positioning system) e obter acesso à Internet em qualquer lugar e hora. O celular poderá ser uma nova forma de mídia para anúncios personalizados. Em relação ao espectro, as novas tecnologias estão disponíveis para a maioria das frequências, mas algumas levam a implementações mais econômicas e eficientes. Ainda que a utilização do espectro se torne mais eficiente, milagre não existe, e mais espectro obviamente será necessário”, finalizou o executivo da Claro.
A analista Tammy Parker, do Informa & Media Group, observou que o modo pré-pago da utilização do celular é dominante na América Latina, sendo utilizado para pequenas mensagens e para contatos sociais. O sistema pré-pago, porém, constitui uma excelente plataforma para ser utilizado em atividades bancárias. Novos serviços de dados estão sendo incorporados nas estratégias das prestadoras, ao passo que o serviço de voz é agora visto como uma mera commodity.
Julio Puschel, do Yankee Group, expandiu conceitos. As redes deixaram de ser orientadas para serviços específicos e passam a representar uma "ponta" do mundo IP (Internet Protocol) para dar suporte a uma grande variedade de aplicações. O modelo das telecomunicações, por tradição centrado na voz (telefonia), passa agora a ser centrado nos dados. Surge o desafio de como equilibrar receitas entre voz e dados neste novo ambiente.
O "flat fee" (tarifa uniforme) – em que o preço é proporcional à velocidade do acesso – começa a ser questionado nos EUA. A pergunta é se o flat fee dá sustentabilidade ao negócio e se, caso contrário, não deveria ser suportado por publicidade ou por outros mecanismos. O flat fee pode fazer sentido no lançamento de um serviço, mas a médio prazo vai afetar o ARPU (receita líquida média por cliente ou usuário) das empresas, postulou o palestrante.
Um setor em mudança
Luiz Shibata, da Promon Logicalis (fusão da Promon com a empresa inglesa), observou que os prestadores de serviços querem ser provedores de acesso quando, ao invés, deveriam ser provedores de serviços de valor agregado para o usuário.
O palestrante mostrou a cadeia de valor do novo mundo que surge nas telecomunicações e como empresas e grupos se movem e expandem nesse cenário. A Nokia com a Ovi (porta em sueco) expandiram de fabricante de aparelhos para prestadora de serviços via Internet. O Disney hand set é o provedor de entretenimento entrando no mercado de aparelhos visando o público infantil.
O atual gargalo do novo mundo da comunicação de banda larga móvel está no backhaul e não mais no acesso celular da última milha. O modelo de negócios vai migrar para uma maior aceitação de MVNO (mobile virtual network operator) – o varejo dos novos serviços móveis – e de compartilhamento de infraestrutura.
O sucesso da banda larga móvel pressiona para mais sites cujos custos de aluguel e energia crescem. As zonas rurais, de baixa densidade populacional, têm resultados marginais. Tais fatores sugerem o compartilhamento urgente de infraestrutura nas telecomunicações.
A convergência fixa-móvel
A telefonia fixa continua crescendo, mas precisa de uma transformação no seu modelo de negócios. Esta é a tese da Algar Telecom, que está passando pela experiência de transformar todas suas redes para tecnologia IP (Internet Protocol).
A prestadora reduziu suas 32 centrais para apenas duas e está vendendo um prédio. A transformação da empresa se deu nos eixos: 1) do mercado, com novas ofertas e portal de relacionamento; 2) da tecnologia, com a rede IP, Internet com serviços de valor adicionado e plataformas abertas; e 3) da operação, mexendo em processos e estruturas e motivando funcionários.
Ao trocar toda a rede do País para IP, há o perigo do “espaguete”. Isto é, fica mais complexo o modelo das interconexões e das sinalizações da rede podendo gerar paradas do sistema, por vezes, até de grandes proporções. “Para quem está de fora, a mudança para IP parece fácil”, observou, não sem certa filosofia, o engenheiro e insider Divino de Souza, CEO (chief executive officer) da Algar Telecom.
Convergência fixo-móvel (CFM ou em inglês FMC) foi o fio condutor da palestra de Luciano Touguinho de Castro, superintendente da Telefônica. O road map da convergência se manifesta na integração das organizações; nas soluções integradas para o cliente, envolvendo acesso, dispositivos, serviços e conteúdo; e na integração tecnológica das redes fixa e móvel.
Lembrou o palestrante que o valor entregue ao cliente deve independer se a tecnologia é fixa ou móvel. A sinergia que se cria entre fixo e móvel acaba interligando mercados com ofertas cruzadas, reduz custos e aumenta a base de clientes e os serviços por cliente, o que é uma boa maneira para retê-los. A Telefônica tem experiências mundiais na convergência fixo-móvel. Cada caso, porém, é um caso. Barreiras internas precisam ser aplanadas. Cria-se um escritório para a convergência.
No Brasil, a experiência fixo-móvel da Telefônica (1998-2005) surgiu com a cooperação em atividades de suporte, como transmissão, back office e compras unificadas e terceirização de call center (Atento), a que se seguiu uma convergência do grupo na América Latina (2006-2008). A estratégia agora é ter um backhaul fixo de elevada capacidade (fibra) com pequenas células rádio a ele interligadas e com um controle de rede comum.
Ponto de vista de uma prestadora móvel
Roger Solé, diretor de marketing consumidor da TIM Brasil, distinguiu o mercado residencial, em que o telefone, o televisor e o computador pessoal disputam espaço e o mercado da mobilidade com o celular, o laptop e o televisor móvel. Uma operadora pode seguir duas estratégias: expansão e convergência. Na expansão, a operadora – com ou sem parceria – alcança novos mercados com novos produtos. Na convergência, a intenção é aumentar a base de clientes, seja por "churn" (migração do cliente) ou por aquisição de outra prestadora.
As prestadoras precisarão mudar sua visão de um enfoque por produto ou serviço por outra na qual a segmentação se dá classificando as prioridades em alta, baixa ou secundária.
No novo paradigma das telecomunicações, a tecnologia permite que um mesmo serviço possa ser entregue por distintos aparatos. Na briga pela atenção do usuário no lar, em que o âmbito é fixo, as empresas de TV por assinatura oferecem, além da televisão, Internet e voz. As prestadoras de telefonia fixa, por sua vez, além da voz, oferecem Internet e televisão IP. Isto ainda não é tudo. O celular, ao entrar no lar, quer ser o aparelho único, com as características de um aparato fixo; e o televisor digital com retorno via acesso telefônico quer ser o computador do pobre para fins educacionais.
No mundo da mobilidade, a briga é a mesma. Além da voz móvel, o celular oferece Internet banda larga e televisão via IP. A televisão digital, pelo ar, quer ser recebida por um minitelevisor móvel ou por um chip adicional incorporado no aparelho celular. Nesse mundo eletrônico em mutação, aparentemente confuso, o foco deve continuar sendo o cliente que deve receber benefícios de conveniência (one stop shopping, ofertas combinadas) e de economia (desconto em pacotes de ofertas).
Minifeira
Tiveram estandes na minifeira do Americas Com, dentre outros: Anydata (USA, Coreia), com roteador Wi-Fi; Astellia (França), com sistemas hightec de monitoração e análise de redes; Interop (USA), com plataformas para SMS (short message service), MMS (multimídia messaging service), gerenciamento de dispositivos e de acesso móvel à Internet e outros produtos; LogMeIn (USA, Austrália), com controle remoto de aparelhos móveis, permitindo, inclusive, sua manutenção; Oberthur Technologies (estão no Brasil), com cartões inteligentes; Orga (França, Brasil), também com cartões inteligentes; Smart Trust (Suécia), com o device manager, que reconhece os dispositivos móveis que estão na rua; SPB Software (USA, Hong Kong), com IPTV e acesso a mais de 100 programas; VNL (Índia), com estação GSM e alimentação solar e que está em testes de campo na Índia.
Site:TeleBrasil Online
Data: 07/07/2009
Hora: ------
Seção: ------
Autor: João Carlos Fonseca
Link: http://www.telebrasil.org.br/artigos/artigos.asp#884