A crise atual e os impactos para a TI no Brasil
10/07/2009
Diante da evolução do cenário macroeconômico global e no Brasil, é possível que a maioria das organizações possa e deva reduzir seus gastos em 2009. Mas isso não é tão simples, tendo em vista a complexa arquitetura de aplicativos em muitas empresas.O impacto da atual crise em TI tem sido objeto de inúmeros trabalhos e artigos que, de forma geral, destacam a necessidade de equilibrar as pressões de curto prazo para redução de custo com as de mais longo prazo, focadas na geração de valor para os negócios. Diante da evolução do cenário macroeconômico global e no Brasil, acredito que a maioria das organizações possa e deva reduzir seus gastos em 2009. Mas isso não é tão simples, tendo em vista a complexa arquitetura de aplicativos em muitas empresas, bem como os contratos existentes com fornecedores.É importante reconhecer que a abordagem para a redução de gastos dependerá da situação financeira de cada organização, e que fórmulas prontas são de difícil aplicação. Empresas enfrentando dificuldades de liquidez certamente irão priorizar reduções de gastos no curto prazo, muito embora isso possa comprometer projetos que agregariam valor ao negócio em horizontes de tempo mais longos. Nesses casos, a abordagem a ser adotada é focada essencialmente em redução de custo, mesmo que o nível de serviço fique comprometido. A velocidade de implementação é também uma variável importante.Assim, a renegociação de contratos com fornecedores é quase inevitável. É também preciso rever as políticas que determinam vários dos gastos de TI, tais como reposição de equipamento, necessidade de licenças, outsourcing, etc. O fundamental é manter o foco no “80/20”, ou seja, maiores pockets de gastos. Fica claro também que os investimentos devem ser postergados, exceto os mandatórios (ex. requerimento legal).As empresas em situação financeira confortável, paradoxalmente, tem decisões mais complexas a tomar. Além das áreas mais evidentes de redução de gastos (ex. fornecedores), será preciso avaliar cuidadosamente aquelas que, de fato, poderiam agregar maior valor ao negócio. O desafio de fazer os cortes certos é aumentado porque, na maioria dos casos, as prioridades de negócio para TI são raramente claras e acordadas nas organizações. O melhor alinhamento entre TI e o negócio demandará mudanças importantes.A primeira grande mudança refere-se ao modelo de governança e aos processos de planejamento de TI. Em nossa experiência, apenas uma parcela pequena das empresas desenvolve seu plano de TI simultaneamente ao seu plano estratégico. Na maioria dos casos, o plano de TI é desenvolvido de forma bottom up, ou seja de acordo com os requerimentos das áreas, fazendo apenas referências ao plano estratégico. Para que TI contribua efetivamente na criação de diferencial competitivo, é fundamental que seu planejamento seja feito de forma mais integrada e simultânea ao do negócio.Essa maior integração, por sua vez, requer que as discussões de TI sejam realizadas junto à alta direção e ao conselho das empresas, e implica o redesenho do processo de planejamento, combinando as visões bottom-up e top-down.Uma outra mudança importante para permitir um melhor alinhamento entre TI e o negócio diz respeito à propensão das empresas em adotar tecnologias de ponta. A grande maioria das companhias prefere investir em tecnologias que já sejam ou estejam se tornando maduras. Somente uma minoria é early adopter. Todavia, estudos mostram que os early adopters são aqueles que apresentam um portfólio de projetos de TI claramente determinados pelo negócio. A questão central é a estratégia de adoção, que deve pesar as capacitações existentes, bem como os benefícios potenciais para definição da melhor abordagem (ex: piloto, spin-off, etc.).A terceira mudança refere-se ao processo de gestão de demanda. Acreditar que uma revisão abrangente do plano de TI no início do ano seja suficiente para reduzir gastos é, de certa forma, ingênuo. Sabemos que as demandas para a área de TI surgem diariamente. Nesse contexto, e reconhecendo a dificuldade de realizar uma reavaliação dos planos de TI continuamente, acreditamos que um processo robusto de gestão de demanda seja fundamental. Esse processo tem se apresentado como um desafio contínuo para as empresas, uma vez que requer um modelo de governança com participação dos negócios, em todos os níveis, e a definição clara dos critérios de decisão. Mais ainda, exige reconhecer que “one size fits all” não é necessariamente o melhor modelo. Efetivamente, um modelo de serviço segmentado permite uma melhor utilização de recursos, adequando os gastos à necessidade real de cada negócio.A atual crise econômica certamente terá um impacto significativo em várias indústrias, que devem se reconfigurar para sobreviver. O cenário apresenta, porém, uma oportunidade única: as empresas podem rever seus processos e políticas com maior aceitação de seus profissionais, considerando-se as incertezas existentes no quadro econômico. Excelente momento para que as companhias em situação financeira sólida alinhem, efetivamente, a área de TI ao negócio. As oportunidades de melhoria são significativas e certamente terão impacto no longo prazo.Site: ComputerworldData: 08/07/2009Hora: 16h08Seção: GestãoAutor: ------ Link: http://computerworld.uol.com.br/gestao/leticia_costa/idgcoluna.2009-07-08.9240527370/